As cuecas do notável
Não pactuava com injustiças. Era mais forte do que ele. Mesmo que não quisesse – e às vezes não queria -, tinha que se pôr do lado de quem não se podia defender. Como as cuecas, por exemplo, permanentemente sujeitas a desconsiderações e a humilhações. Eram situações intoleráveis, dificilmente aplicáveis às camisas, às blusas, às calças, às saias, mesmo aos sutiãs (apesar do esforço das feministas) e das gravatas, que de vez em quando estavam mal vistas. Não, com as cuecas era permanente! Nada mudava. E isso não podia ser.
Não compreendia a razão para o desprezo. Mesmo na tenra idade, quando as cuecas eram a fingir.
Sinceramente, não conseguia descortinar o porquê. Seria por inveja?... Má formação?... Por influência do lobby das tangas?... Ou dos nudistas?... Não sabia. Mas era como com as bruxas: a discriminação existia e a desconsideração também. Sobre a humilhação, então…
Tudo começava na linguagem, rebaixando logo a dignidade da peça de vestuário. «Não mostres as cuecas!»; «Viam-se-lhe as cuecas»; «Não tires as cuecas». Três exemplos, três prepotências: não mostrar, não deixar ver e não tirar. Como se devessem envergonhar-se da proximidade com zonas nobres do corpo… Não fossem as cuecas fortes, incluindo as de fio dental, e o passaporte para o psiquiatra estava carimbado e a receita de malucas já passada.
Uma pessoa passa por um local onde estão a vender roupa. A roupa é variada, está a ser vendida a bom preço e parece ser de qualidade. Sobre a roupa que está a ser vendida afiançam-se, na última frase, três das suas qualidades: a variedade, o bom preço e a qualidade. É um cenário tentador, sobretudo para quem se interesse por estas coisas do comprar roupa. Para não nos acusarem de futilidade ou despesismo, acrescentemos a necessidade às outras três. E o quadro fica mais composto, mesmo para quem não goste de comprar roupa.
Continuemos a dar largas à imaginação, a única parte do corpo humano que é benquista pelas pessoas elegantes para ostentar largueza sem problemas: o comprador é um notável! E aqui os olhos apuram-se (tal como aconteceria aos ouvidos se fosse ouvido), interessando na história os que gostam de comprar roupa a bom preço e os que não gostam de comprar roupa, ainda que a bom preço.
Agucemos mais ainda a curiosidade, outra parte do corpo humano que se dá bem com estímulos: cuecas, vários pares, são as peças de vestuário que o notável compra. Desconhece-se a cor, o formato, o tecido, mas conhecem-se o preço atractivo e a ocasião, que também o era. Mas as cuecas tinham um defeito: eram apertadas! E, por o serem, obrigam a sacrifícios como o que aconteceu ao nosso notável, que o levaram a solicitar um adiamento de uma votação, para poder lidar com o desconforto do aperto. Foi-lhe concedido o desejo, mas brindado com sorrisos dos pares, notáveis eles também. Retirou-se, pois, o notável e regressou pouco depois, mais desafogado, imagina-se porquê… E votou contra.
Não compreendia a razão para o desprezo. Mesmo na tenra idade, quando as cuecas eram a fingir.
Sinceramente, não conseguia descortinar o porquê. Seria por inveja?... Má formação?... Por influência do lobby das tangas?... Ou dos nudistas?... Não sabia. Mas era como com as bruxas: a discriminação existia e a desconsideração também. Sobre a humilhação, então…
Tudo começava na linguagem, rebaixando logo a dignidade da peça de vestuário. «Não mostres as cuecas!»; «Viam-se-lhe as cuecas»; «Não tires as cuecas». Três exemplos, três prepotências: não mostrar, não deixar ver e não tirar. Como se devessem envergonhar-se da proximidade com zonas nobres do corpo… Não fossem as cuecas fortes, incluindo as de fio dental, e o passaporte para o psiquiatra estava carimbado e a receita de malucas já passada.
Uma pessoa passa por um local onde estão a vender roupa. A roupa é variada, está a ser vendida a bom preço e parece ser de qualidade. Sobre a roupa que está a ser vendida afiançam-se, na última frase, três das suas qualidades: a variedade, o bom preço e a qualidade. É um cenário tentador, sobretudo para quem se interesse por estas coisas do comprar roupa. Para não nos acusarem de futilidade ou despesismo, acrescentemos a necessidade às outras três. E o quadro fica mais composto, mesmo para quem não goste de comprar roupa.
Continuemos a dar largas à imaginação, a única parte do corpo humano que é benquista pelas pessoas elegantes para ostentar largueza sem problemas: o comprador é um notável! E aqui os olhos apuram-se (tal como aconteceria aos ouvidos se fosse ouvido), interessando na história os que gostam de comprar roupa a bom preço e os que não gostam de comprar roupa, ainda que a bom preço.
Agucemos mais ainda a curiosidade, outra parte do corpo humano que se dá bem com estímulos: cuecas, vários pares, são as peças de vestuário que o notável compra. Desconhece-se a cor, o formato, o tecido, mas conhecem-se o preço atractivo e a ocasião, que também o era. Mas as cuecas tinham um defeito: eram apertadas! E, por o serem, obrigam a sacrifícios como o que aconteceu ao nosso notável, que o levaram a solicitar um adiamento de uma votação, para poder lidar com o desconforto do aperto. Foi-lhe concedido o desejo, mas brindado com sorrisos dos pares, notáveis eles também. Retirou-se, pois, o notável e regressou pouco depois, mais desafogado, imagina-se porquê… E votou contra.
Etiquetas: Historieta
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