03 abril 2015

O zombe

Era um zombe de boas famílias. Ao contrário do ramo da família não recomendável, o zombie, o zombe era atinado e não assustava ninguém. É certo que também fizera por isso: estudara, empenhara-se e construíra a sua vida de zombe, que não era uma vida fácil (contrariamente ao que pensavam os não-zombes), embora gratificante. A família não era muito numerosa, pelo menos do lado do pai, mas suficientemente grande do lado da mãe, apesar de ter só um irmão, mas com muitos filhos, que constituíam os primos zombeteiros. Os primos zombies, como se disse, eram ostracizados, pese embora lhes corresse sangue zombe nas veias, só que misturado com zombie, o que nunca poderia dar bom resultado… Vamos deixar os zombies em paz, que também merecem…
O nosso zombe levava uma vida pacata, aqui e ali pontuada com alguns momentos de zombaria, sobretudo no Verão, mas que também poderiam ocorrer na Primavera, no Outono e no Inverno, só que mais raras.
Quando quis ser futebolista zombaram dele e nunca mais pôs os pés num estádio. Nas bancadas, pelo contrário, era um espectador assíduo e até fazia parte de uma das claques, a dos zombes, como se está bem a ver, pois não achava muita piada às outras, constituídas, maioritariamente, por não-zombes. Mas não se davam mal e só se ignoravam.
Aos que lhe tinham augurado um grande futuro como zombe (o que se verificou, apesar da sua modéstia) respondia, não sem uma ponta de zombaria, que não zombassem com ele, pois era um simples zombe. De boas famílias, é certo, mas um zombe.

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