A realidade
Dispunha de algum tempo e resolveu ir conhecer a realidade. Era algo para o qual já estava atrasado, pois tinha sido uma decisão de Ano Novo para a 2.ª semana de janeiro. O facto é que se metera muita coisa pelo meio, situação que não costuma estar prevista nas decisões de Ano Novo, mas que teria que passar a contar quando fizesse as próximas decisões, para o ano que vinha. Convinha tomar nota, não fosse esquecer-se.
Mas o próximo ano ainda vinha longe e tínhamos que tratar deste, que se revelava mais agitado do que se previa, mas que já se calculava, embora não fosse tido em conta. Diziam-lhe que esse era um dos aspectos mais curiosos da realidade, mas que não desse grande importância, pois era da natureza da realidade fugir à formatação e ao Excel, sendo um pouco rebelde e, poderíamos nós concluir, uma brincalhona que gostava de gozar com as coisas sérias. Mesmo não a conhecendo ainda, era um pormenor para o qual devia estar prevenido. Brincar sim, fazer humor, pois claro, mas sempre com atenção às coisas sérias e pensadas, equacionadas, projectadas, inscritas em planos, estratégias e visões. A realidade que se cuidasse, pois não estava disposto a pactuar com essa desfaçatez. Houvesse respeito!
Mas continuava com o seu problema por resolver, pois não tinha tido sorte com a consulta das páginas amarelas a respeito da morada da realidade, que lhe disseram que era perto. A única coisa que encontrara de mais parecido com o nome era «Realejo», mas não devia ser aquilo que queria. Teria que continuar a tentar, por conseguinte.
Enquanto assim pensava, subia avenida acima. O cenário parecia-lhe o mesmo de sempre, embora tivesse mais gente. Se calhar também eram pessoas como ele, à procura da realidade ou a fazer compras, pois via muitas delas com sacos. O que o intrigava eram dois ciclistas, que pedalavam ora no passeio ora junto dos carros, que também havia vários, olhando lá para dentro, como quem não quer a coisa e se vai a pensar na vida...
Como ainda não era a época das corridas, surpreendera-se com a presença dos ciclistas ali e àquela hora, para mais em contramão. Da polícia não eram, uma vez que a farda era diferente (a não ser que estivessem infiltrados), mas também não tinham a pose dos cicloturistas, pois só eram dois e sem preocupações ambientalistas, apesar das bicicletas …
Não queria acreditar no que pensava, embora fosse evidente que o pensara. Poderia lá ser?! Nã!... Devia estar a ver mal…
Procurou informar-se junto dos passeantes, mas não teve sorte nenhuma, pois estes iam na sua vida de sempre. E atrasados, também. Se era por causa de andarem à procura da realidade ou de outra coisa não sabia, mas estava disposto a dar o benefício da dúvida aos ciclistas, que é algo que se costuma dar quando andamos à procura da realidade e ela se esconde… E ele estava disposto a isso….
Quanto às camisolas e à ausência
de publicidade a explicação era simples, conforme lhe explicou a realidade: não
tinham patrocinador. Ainda.
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