Uma oportunidade para a teoria da conspiração
Nem todos ficaram entusiasmados quando declarou que iria passar a dedicar-se às teorias da conspiração. Os maiores opositores foram os seus parceiros de sueca e de dominó, pois receavam que ficassem sem um parceiro, o que se tornava complicado, nos dias que correm, em que já ninguém sabe jogar a sueca e o dominó, mas se pelam pelos jogos e joguinhos das aplicações (apps) dos telemóveis e de outros gadgets. Depois, queixam-se que a cultura desaparece…
A família, pelo contrário, achava muito bem. Incentivavam-no e davam-lhe apoio, mas também alertavam para os cuidados que deveria ter, sobretudo agora que o tempo ainda estava incerto, propício a apanhar resfriados, caso se esquecesse do cachecol ou andasse com o colarinho aberto, ou insolações, se teimasse em não enfiar o barrete. Tirando isso, achavam bem e estavam convencidos de que iria dar-lhe anos de vida. Que bem precisava, pois tivera ali um momento mais complicado. Mas tudo parecia estar a passar, felizmente.
Não queria cometer erros, desta vez. Iria fazer uma prospecção de mercado e ver qual ou quais das teorias da conspiração estaria interessado em desenvolver, umas mais baseadas na cozinha tradicional e outras na perspectiva gourmet. Também daria uma vista de olhos às tendências internacionais - havia que estar atento – e selecionar uma meia dúzia que pudessem vingar e ser do agrado dos clientes. Não estava muito convencido quanto à hipótese da fusão, mas não poderia descartá-la, a bem do negócio.
Mas estava seguro, no entanto, pela opção que tomara. O mercado das teorias da conspiração estava florescente e não era preciso curso. Por isso, era um negócio tão atractivo. Mesmo assim, não deixava de ser exigente. Todo o negócio o era, aliás, e havia que separar o trigo do joio. O das teorias da conspiração não escapava e também se lhe aplicava o mandamento de que o cliente tem sempre razão.
Para além da ausência de habilitação específica, podia ser exercido em part-time, o que muitos faziam, sobretudo depois das horas de expediente. Alguns, poucos, também o faziam nas horas de expediente, mas contrariavam a ética da teoria da conspiração, que explicitava, preto no branco, que a teoria da conspiração só deve desenvolver-se depois das horas de expediente. Quem não o fizesse ficava sujeito às penalizações da Ordem dos Teorizadores da Conspiração, que estava reconhecida e levava a sério o seu estatuto de regularizador. No seu caso estava tranquilo, pois já fizera o exame de ingresso e tinha as quotas em dia.
O seu modelo de negócio para as teorias da conspiração não estava interessado no regime de franchise, que já lhe tinham proposto, mas que recusara, pois o achava um pouco limitador, castrador, mesmo, pouco condizente com a área de negócio. Querer desenvolver uma teoria da conspiração com regras e margens de lucro instituídas por outros, que às vezes nem se sabia quem eram, para ele não dava. Consigo, privilegiaria a originalidade da teoria da conspiração, a chamada teoria da conspiração de autor, mesmo que também providenciasse teorias da conspiração já conhecidas e/ou de inspiração alheia, se fosse esse o desejo do cliente. Mas iria fazer e investir tudo o que tinha nas teorias da conspiração com assinatura própria, na expectativa de ainda vir a obter uma estrela ou duas no Guia das Teorias da Conspiração, que já existia e do qual se fizera assinante.
Para a cerimónia de lançamento do negócio tinha pensado num evento simples, uma vez que estava ainda a começar e não era muito propenso às operações mediáticas, mesmo tratando-se de teorias da conspiração. Com o tempo e o desenvolvimento do negócio talvez se habituasse, mas agora ainda era cedo. Apesar de tímido, mesmo assim iria providenciar alguma espectacularidade à cerimónia, que contava com efeitos especiais directamente de Roswell e a presença, ainda não confirmada, do Elvis, para uma sessão de autógrafos.
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