O futebolista
O maço de cigarros estava no chão e deu-lhe um pontapé, longe de pensar que estava a marcar um destino. Era a primeira vez que o fazia, pois não era fácil encontrar maços de tabaco no chão. Bolas também não, que eram ainda mais raras do que os maços de tabaco. Não deixava de ser irónico, embora desconhecesse o significado da palavra, que o seu destino de futuro futebolista estivesse a ser traçado pelo pontapé num maço de tabaco, quando o devia ter sido por uma bola… Parecia que marcara um golo na sarjeta em vez de na baliza e, em vez de ser aplaudido, era antes vaiado… Mas lá se aguentou.
Por sorte, tinha-se cruzado com um olheiro que, apesar de vesgo, percebia e sabia muito de bola. Também sabia alguma coisa sobre pontapés em maços de cigarros, pois fora fumador e, em tempos, também famoso pelos seus pontapés nos tais, e com os dois pés! Quando deixou de fumar, tornara-se olheiro.
Rapidamente se entenderam, futuro futebolista e olheiro, pois falavam a mesma linguagem: a dos pontapés nos maços de cigarros. Apenas nas embalagens, é certo, pois o futuro jogador ainda fumava, ao contrário do olheiro, que só já olhava. De pontapé em pontapé, treinando um pé de cada vez, mas sempre com a cabeça levantada, facilmente o olheiro se apercebeu de que o jogador estava destinado a mais altos voos do que os dos pontapés nos maços. Com um pouco de sorte e condições das grandes equipas, rapidamente estaria a dar pontapés em embalagens de charutos ou de cigarrilhas, quisesse o jogador e tivesse juízo… E teve.
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