04 agosto 2012

Subir à 3.ª

Participar numa competição desportiva pode ser feito de uma forma descomprometida ou tendo em vista um resultado concreto, medido pela bitola da vitória ou da derrota, cada vez mais a opção dominante, mesmo em competições em que o grau de profissionalização parece uma realidade mais longínqua. Nos clubes de futebol, qualquer que seja o nível considerado, esta busca pela vitória ocorre com mais um menos nuances, sendo típico de uma certa forma de ver ou estar no desporto, não necessariamente indesejável, e, até, largamente maioritária.
Nas zonas do interior, o futebol, sobretudo, sempre foi visto como uma forma de afirmação perante o exterior ou o circundante, responsável pela criação de um universo e de uma vivência muito peculiares, designadamente há anos atrás, menos castigados pela ausência de população, vivendo muito de uma simbologia e de um imaginário reforçados localmente, por razões culturais e socioeconómicas, que tinham a sua expressão na utilização e recurso aos jogadores nados e criados na zona, com uma ou outra excepção, mas sempre se enaltecendo e evidenciando essa característica e ligação às origens: motivo de orgulho e, não raras vezes, saboroso traço distintivo quando comparado com outras realidades ou equipas.
Não se estranhe, por isso, o clímax que representava, para essas equipas e jogadores dessas zonas, o ganhar um campeonato distrital e a consequente «subida à 3.ª», isto é, o direito a participar no campeonato nacional da 3.ª Divisão, uma das ambições mais desejadas, mesmo que durasse apenas um ano, como acontecia muitas vezes, por óbvias incapacidades de manutenção por mais tempo, dadas as limitações financeiras e logísticas com se debatiam, para além das futebolísticas. Mas isso só se constatava e confirmava depois, ficando na memória a verdadeira festa que representava para os jogadores, a equipa e a terra a conquista do Distrital, uma festa genuína e verdadeiramente popular nesses tempos, semelhante à romaria tradicional, mas com a vantagem de ocorrer só de tempos a tempos e, nalguns casos, de forma inesperada ou não expectável no início. E aí, a festa era a dobrar: subir à 3.ª não era para todos!

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