Evolou-se

A princípio, estranhou. Depois, foi-se habituando. Um dia, naquele dia, aconteceu. A sua história é esta.
Nas carruagens do metro, as pessoas juntavam-se mas não muito. Após uma paragem, o número de pessoas diminuiu. Mais confortável, inspirou fundo e deixou-se ir, retirando a mão que segurava o apoio, repetindo um gesto e hábito rotineiros, preparando-se para fruir o seu momento de embalo em movimento, sem mãos e sem apoio. Como se vogasse ou, mais secretamente, flutuasse... Deixou-se ir, certo da rotina de sempre.
Contudo, nesse dia algo diferente aconteceu, pasmando quem viu. Estava calor e havia uma janela aberta...
Quem viu, sobressaltou-se e ainda não acredita, passado o caso. Que viram, contudo, mesmo não acreditando?!...
Quem não viu, mas acredita, contou que, durante a viagem, nessa viagem, um homem se esvaeceu e saiu pela janela, «como fumo», disseram uns, «como uma nuvem», garantiram outros... Até hoje, segundo a família, que parece que a tinha. Mas costuma dar notícias, mesmo evolado... Ainda há pouco o vi (ou pareceu-me ele): estava feliz.