Roteiro de(a) crise (parte 1)
Era para ser um passeio a pé como os outros: distância aceitável; itinerário conhecido; destino certo. Era para ser um passeio a pé como os outros, mas não foi. E tudo se deveu ao acaso, não de trajecto ou de rota, mas de atenção. Também de circunstância, há que dizê-lo. Nos dias que correm e nas terras que se habitam, aproveitar a circunstância não é pequena coisa. Pelo contrário, é grande e celebrada coisa. Como foi outrora e provavelmente o será depois de agora, tal e conforme a circunstância de então… Mas voltemos ao passeio.
Aceite a distância, conhecido o itinerário e certificado o destino, poderia pensar-se que o nosso passeio a pé se fazia ao abrigo de roteiro pré-determinado, com pausas para descanso e momentos para desfrute, como é costume de roteiro que se preze. Não era o caso, no entanto. Nem roteiro, nem desfrute, muito menos descanso: só um imperativo de marcha, numa ânsia de papa-léguas, por metros que fossem. E nisso, o nosso passeio a pé não se diferenciava de outros. Julgava ele.
Mas o impensável aconteceu, transformando um passeio a pé igual a tantos outros num passeio a pé que se iria diferenciar de todos os outros. Saber porquê também o confirmará, sob pena de o caminheiro se desacreditar em relação ao que afirma, que afiança por bom e por verdadeiro. Veremos se o consegue.
Estava um dia bonito, destes que já foram habituais naqueles dias atrás e o são nestes também, com o sol a lembrar Primavera e um frio a não fazer esquecer o Inverno, ainda que arredado de chuva, pois que a crise, em tempos de crise, pelos vistos também não escolhe desígnios, por climatéricos ou de precipitação que se (não) vejam… Não contando, por enquanto, com a chuva dos céus para esconjurar o mau-prenúncio, só nos resta que avancemos pelo roteiro, que embora se diga não-existente à partida se deu por bom e verdadeiro, e urge tornar conforme com a lógica do título e o factual da sua efectivação. Confiemos, por isso. (continua)
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