04 janeiro 2012

A Toupeira

A Toupeira, filme baseado num livro de John le Carré, é uma história fascinante, passada num tempo e numa época míticos – os da Guerra Fria – e contada pelos olhos e pelas memórias de alguns dos seus protagonistas – os espiões.
Como em toda a trama de espiões, a história de A Toupeira centra-se na reflexão em torno do conceito e do valor da lealdade, matéria-prima que enforma o ser e o estar do espião, pré ou pós Guerra Fria.
Sendo a espionagem, por definição, um universo inacessível aos não-iniciados, constituindo um mundo de sombras e um palco para protagonistas sem rosto, durante a Guerra Fria ter-se-á acentuado essa dimensão de secretismo e de exclusividade, quase nos fazendo esquecer que esse mundo, o da espionagem, e esses protagonistas, os espiões, são, para o bem e para o mal, um mundo humano, demasiado humano, e só protagonizado por humanos, de carne e osso, mesmo que formatados de ideologia.
Por isso, em A Toupeira, onde outros filmes nos revelam o glamour e a espectacularidade desse mundo ou desses protagonistas, encontramos como protagonistas cidadãos (quase) anónimos, com os seus sonhos ou decepções, num misto de exaltação ou de resignação pelas suas vidas, pelas suas vitórias ou derrotas, grandes ou pequenas, num quotidiano pintado em cores baças, propositada ou inadvertidamente combinadas.
 E é talvez por isso que A Toupeira é um filme surpreendente, por essa capacidade de assumir a contenção em vez da espectacularidade; por mostrar a complexidade na (aparente) simplicidade; por transformar o normal e o quotidiano no extraordinário e invulgar; numa mescla de sentimentos e atitudes contraditórios, se bem que perenes, ou não estivéssemos a falar de homens e de mulheres comuns, ainda que espiões.

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