Presidenciais
Agora que toda gente - ou quase - já deu a sua opinião sobre as presidenciais, aqui fica também a minha, sob a forma de notas:
1.ª) Nas eleições em Portugal, a escolha dos eleitos está mais dependente das emoções do que da razão. Votantes ou abstencionistas, uma grande parte das pessoas não está muito interessada ou motivada para conhecer, debater ou subscrever propostas ou projectos. Vota de acordo com uma grelha de antinomias que remetem para o domínio do emotivo: gostar/não gostar; simpatizar/antipatizar; novo/velho; familiar/estranho; militante/diletante; correlegionário/não correlegionário. A eleição presidencial não escapa a este quadro, antes o acentua.
2.ª) Cavaco Silva ganhou as eleições para a Presidência da República, à primeira volta, mantendo-se fiel a uma estratégia, definida ao milímetro, caracterizada pelo não comprometimento. Para quem não se assumia como "político profissional", nada mal, não senhor! Literalmente não "deu Cavaco" aos restantes candidatos, que variados esforços fizeram para o trazer à disputa. No que me diz respeito, passa a ser (é) o Presidente da República de Portugal. Ganhou e está legitimado eleitoralmente. Ponto final.
3.ª) Os portugueses dificilmente se libertam da tentação do "sebastianismo". A escolha de Cavaco Silva aí está para o provar. Mas se fosse outro o escolhido - qualquer que ele fosse - será que essa tentação permaneceria? Penso que sim. Com qualquer um deles, ainda que assumindo formas e matizes diversos.
4.ª) Foi um choque o resultado eleitoral de Mário Soares, designadamente para o próprio. Estou convencido que se candidatou, entre outras razões, na plena convicção de que, qualquer que fosse o opositor, a vitória estaria mais ou menos garantida, com mais ou menos esforço, idealmente numa segunda volta, para culminar de forma épica. Seria o coroar de uma carreira política notável, com um último combate com um adversário de respeito, Cavaco Silva, apresentado como vencedor antecipado durante muito tempo. Será que este excesso de optimismo não se teria ele próprio virado contra Soares? Tenho quase a certeza. A História, mais uma vez, não se repetiu.
5.ª) Os resultados de Manuel Alegre surpreenderam muita gente, se calhar até ele e os seus apoiantes. Quais as razões para que isto tenha acontecido? Eis algumas: a valorização da imagem de resistente e de criador e potenciador de sonhos; algum desencanto com os resultados da prática governativa e com o processo de escolha do candidato do seu partido; a carga simbólica e o imaginário, acentuadamente de cariz patriótico, que perpassou no discurso e nas acções de campanha. Ganha uma legitimidade que ultrapassa as fronteiras do seu partido, devendo contudo, na minha opinião, não a sobrestimar. O resultado é fruto de circunstâncias que não se repetirão, sendo, por isso, efémero. A ideia do movimento cívico, aparentemente já instaurado, não sei se terá pernas para andar. Para além disso, recordar o que aconteceu a Mário Soares talvez não seja despropositado...
6.ª) Jerónimo de Sousa afirma-se como um verdadeiro fenómeno. Para o Partido Comunista é uma clara mais-valia eleitoral e mediática. À sua escala, foi um dos vencedores.
7.ª) Francisco Louçã deve estar decepcionado. Muito boa preparação, imagem mediática favorável, militância e combatividade não foram suficientes para alcançar o que se tinha proposto: impedir a vitória de Cavaco Silva e ficar à frente de Jerónimo de Sousa. Foi um dos derrotados destas eleições.
8.ª) Uma palavra para Garcia Pereira: a militância continua!
9.ª) A abstenção foi muito significativa, permanecendo um indicador preocupante sobre o estado do País. Não é ainda um alerta suficiente para a tradicional forma de fazer política?...
1.ª) Nas eleições em Portugal, a escolha dos eleitos está mais dependente das emoções do que da razão. Votantes ou abstencionistas, uma grande parte das pessoas não está muito interessada ou motivada para conhecer, debater ou subscrever propostas ou projectos. Vota de acordo com uma grelha de antinomias que remetem para o domínio do emotivo: gostar/não gostar; simpatizar/antipatizar; novo/velho; familiar/estranho; militante/diletante; correlegionário/não correlegionário. A eleição presidencial não escapa a este quadro, antes o acentua.
2.ª) Cavaco Silva ganhou as eleições para a Presidência da República, à primeira volta, mantendo-se fiel a uma estratégia, definida ao milímetro, caracterizada pelo não comprometimento. Para quem não se assumia como "político profissional", nada mal, não senhor! Literalmente não "deu Cavaco" aos restantes candidatos, que variados esforços fizeram para o trazer à disputa. No que me diz respeito, passa a ser (é) o Presidente da República de Portugal. Ganhou e está legitimado eleitoralmente. Ponto final.
3.ª) Os portugueses dificilmente se libertam da tentação do "sebastianismo". A escolha de Cavaco Silva aí está para o provar. Mas se fosse outro o escolhido - qualquer que ele fosse - será que essa tentação permaneceria? Penso que sim. Com qualquer um deles, ainda que assumindo formas e matizes diversos.
4.ª) Foi um choque o resultado eleitoral de Mário Soares, designadamente para o próprio. Estou convencido que se candidatou, entre outras razões, na plena convicção de que, qualquer que fosse o opositor, a vitória estaria mais ou menos garantida, com mais ou menos esforço, idealmente numa segunda volta, para culminar de forma épica. Seria o coroar de uma carreira política notável, com um último combate com um adversário de respeito, Cavaco Silva, apresentado como vencedor antecipado durante muito tempo. Será que este excesso de optimismo não se teria ele próprio virado contra Soares? Tenho quase a certeza. A História, mais uma vez, não se repetiu.
5.ª) Os resultados de Manuel Alegre surpreenderam muita gente, se calhar até ele e os seus apoiantes. Quais as razões para que isto tenha acontecido? Eis algumas: a valorização da imagem de resistente e de criador e potenciador de sonhos; algum desencanto com os resultados da prática governativa e com o processo de escolha do candidato do seu partido; a carga simbólica e o imaginário, acentuadamente de cariz patriótico, que perpassou no discurso e nas acções de campanha. Ganha uma legitimidade que ultrapassa as fronteiras do seu partido, devendo contudo, na minha opinião, não a sobrestimar. O resultado é fruto de circunstâncias que não se repetirão, sendo, por isso, efémero. A ideia do movimento cívico, aparentemente já instaurado, não sei se terá pernas para andar. Para além disso, recordar o que aconteceu a Mário Soares talvez não seja despropositado...
6.ª) Jerónimo de Sousa afirma-se como um verdadeiro fenómeno. Para o Partido Comunista é uma clara mais-valia eleitoral e mediática. À sua escala, foi um dos vencedores.
7.ª) Francisco Louçã deve estar decepcionado. Muito boa preparação, imagem mediática favorável, militância e combatividade não foram suficientes para alcançar o que se tinha proposto: impedir a vitória de Cavaco Silva e ficar à frente de Jerónimo de Sousa. Foi um dos derrotados destas eleições.
8.ª) Uma palavra para Garcia Pereira: a militância continua!
9.ª) A abstenção foi muito significativa, permanecendo um indicador preocupante sobre o estado do País. Não é ainda um alerta suficiente para a tradicional forma de fazer política?...
Etiquetas: Política
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