Espanejador
Nem sempre, mas de vez em quando, o escriba dava uma vista de olhos pelo material que escrevera e que, por uma razão ou outra, não tinha tido direito ao seu «momento de fama», melhor dizendo, ao seu banho de divulgação pública, fosse no formato papel ou digital. Para que não haja confusões ou mal-entendidos, estamos a falar de um universo e de uma escala pequenos, na casa das três ou quatro almas piedosas que, por caridade ou desfastio, lá iam dando um aceno de simpatia ou um ataque de tosse provocado pelo impacto da «literatura», ainda que afastado do tempo mais propício a manifestações desta natureza... Sendo hoje um desse dias, lá se aprontou o escriba para espanejar a poeira acumulada nas peças escritas e em actual estado de pousio, olhando para umas tantas e tomando-lhes o sentido, às vezes directo, outras enviesado, mas buscando algum que lhe despertasse a atenção, coisa que não estava fácil... Cansado de esperar pela aparição do que não ia aparecer, resignava-se o escriba, para não ficar emperrado e desapontado com o resultado, socorreu-se de uma velha máxima, sempre útil, que era esta: «Hoje, talvez não seja bom dia para limpezas...».
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