De(talhe)
Achou que poderia ser um bom dia para desenvolver a sua pesquisa/investigação acerca do «detalhe», matéria que de há muito lhe andava a percorrer as sinapses (bonita imagem, não...?), apenas com dúvidas sobre se deveria fazê-lo antes ou depois do pequeno-almoço. Como estava com fome, fá-lo-ia depois... E assim fez, ingeridos que estavam os dois croissants de queijo e fiambre e uma bola de mistura, com pouca manteiga, arrematados com um copo de sumo de laranja caseira e tudo coroado com uma chávena de café de máquina, perfumado e forte. Estava pronto.
O dia estava assim para o acinzentado, com algumas pingas e outras mais pingas ainda, talvez um sinal que deveria ter em conta, razão pela qual voltara atrás para ir buscar uma capa impermeável, que deixara algures, mas que encontraria, de certeza. E lá estava ela, a capa, com o seu cartaz sinalizador, «Estou aqui!», ou não fosse ele um cartaz de pergaminhos ancestrais, comprovados por testemunhos que se perdiam «na bruma dos tempos», não esquecer as aspas, que esta expressão tinha paternidade registada, era o que constava... Agora, sim, estava pronto!
O seu olhar de águia, um pouco pitosga, é certo, mas ainda bastante confiável, rapidamente identificou uma alma com todo o perfil para ser envolvido no estudo a propósito do detalhe, pois levava um sacho e um saco, sinal inequívoco de que o seu destino era o que lhe interessava, era melhor abordá-la e questioná-la da forma mais adequada, por via das dúvidas, não suas, mas dela.
_ Ilustre alma, bom dia. Por obséquio, poderia dar-me uns momentos do seu precioso tempo...?
A alma, que deveria ser um pouco surda, pois se limitara a responder «Hã!...», voltara-se para ele e, de certo por algum pequeno desconforto no braço que o levava, erguia o sacho e volteava-o acima da cabeça, dizia «O que é que este quer...!?», certamente não se apercebendo de que, àquela hora, não existia a plateia que pressupunha a interrogação que ela lançara, estava visto que teria que fazer uma abordagem mais terra-a-terra, não fosse perder-se a oportunidade. E isso não aconteceria...
_ Bom dia. Vai aos detalhes...?
A boa alma, disso não tinha dúvidas, olhou para ele e convidou-o, era uma pessoa educada, reconhecia, a que «se pusesse a milhas, não fosse o sacho abrir-lhe a cabeça!», completando o convite com uma rajada de termos plebeus que, a custo, lhe custaram a decifrar, mas indicadores de que era capaz de ser boa ideia esquecer esta alma para a auscultação sobre o detalhe...
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