01 janeiro 2021

Ao jeito da dança

A prosa começou por lhe sair enrolada, para não dizer chocha. Ainda pensou em dar-lhe com um pau, a ver se a esticava, mas achou que era despropositado. Apesar de tudo, sempre era ano novo. Quanto aos votos, não sabia como convencê-los ou mobilizá-los. Uns queriam mais dinheiro, outros mais regalias, outros mais saúde, paz e amor. Era um clássico. Um tudo ou nada desbotado, mas um clássico. Mesmo assim, achava pouco satisfatório, mais a mais porque tinha estado a dar uma vista de olhos por entradas de outros anos e pareciam-lhe com mais peito. Se calhar porque teriam feito mais exercício ou comido ou bebido mais, não se sabia e não se podia agora confirmar. Voltou a equacionar o pau, mas de novo recusou, talvez porque se estava a deixar enfeitiçar por uma música que passava na televisão, dedicado a valsas e típico desta data. Ainda tentou ensaiar uns passos, mas rapidamente desistiu porque começou a sentir uma dor na barriga das pernas, uma típica dor de quem não está habituado a dançar a valsa, mas sim a bater o pé no sofá e a abanar a mão ao som do compasso. Fora do devaneio, talvez haja uma luz. Ténue, frágil, assustadiça, mas com algum brilho. Compete-nos dar-lhe o calor e a protecção que lhe possam faltar. Foi isso que explicou ao pau e, aparentemente, terá conseguido demovê-lo de fins menos apropriados para com a vassoura, que não tinha culpa nenhuma das atribulações da prosa e do seu autor. Veremos se as coisas melhoram. Até lá, dancemos o vira. Virou!

 


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