Rivalidade em azeite e vinagre
Começava a ficar farto de ser pau para toda a colher... Como nesse dia, em que o chefe lhe dissera para avaliar a profundidade e o significado oculto de duas listas de compras, feitas no mesmo dia pelo chefe rival... Pensara não o fazer e mandar tudo para aquela parte, mas a cozinheira velha dissera-lhe para não o «fazerrrrr», pois isso «poderrrrria» ser visto como «embarrrraçoso» e, bem feitas as contas, precisava do emprego... Que se lixasse!
Olhando para o conteúdo das listas, a análise não parecia difícil. Numa, listavam-se os legumes: couves, brócolos, alhos franceses, agriões. Noutra, as leguminosas: feijões, grão, lentilhas. Em nenhuma delas, qualquer referência a carnes ou bebida. Mas era precisamente isso que intrigava o chefe que lhe encomendara a tarefa semântica... «O que é que o rival estaria a tramar, desta vez...?», dissera-lhe ele, limpando as mãos ao avental, depois de ter acabado de fazer uma maionese. Para mim, parecia óbvio: o que o outro chefe estava a pensar, seria uma de duas coisas - ou uma sopa ou uma salada fria. Para o meu chefe, porém, a explicação era simples de mais, convindo não esquecer que o rival tinha duas estrelas Michellin e ele só tinha uma e meia... Que não descurasse a guarda e as intenções do rival (que eram manhosas e ardilosas, segundo ele) e que depois falaríamos outra vez, mais perto do jantar... Mas que agora convinha dar saída ao pedido da mesa sete, dose e meia de cozido, com umas entradinhas de semântica picada, salteadas em azeite, para dar sabor...
Etiquetas: Gastronomia
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