Uma arte esquecida
A arte de polir esquinas não era uma actividade socialmente reconhecida. Não percebia porquê. Mais ainda, com a sensibilidade vigente, em que se privilegiam actividades com pouco ou nenhum impacto ambiental. Inconformado, decidiu meter mãos à obra e consultar os especialistas. Mas a hora ainda não era apropriada, por demasiado cedo. Talvez mais para o fim da tarde, começo e entrada na noite fosse mais adequado. Aguardaria, por isso. Até lá, dedicar-se-ia a fazer um reconhecimento das esquinas mais frequentadas pelos polidores. Sendo muitas, nem por isso deixava de existir um ranking de esquinas para polir: esquinas de primeira, para os mestres da arte, de segunda, para os ajudantes, e de terceira, para os iniciados. E esta distinção era reprodutível nas costas de cada um dos grupos dos polidores de esquinas, mostrando maior ou menor rugosidade na pele do lombo, uma impressão digital inequívoca sobre o número de anos que se levavam na profissão. E não estava estudado!... Daqui a uns anos, adivinhava-se já, lá viriam as carpideira do costume a lamentar-se pela extinção ou quase de uma profissão ancestral... Também pela moda arquitectónica, reconheça-se, com a tendência para o arredondar das formas.
Etiquetas: Ambiente
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