In vino veritas
O dilema plantou-se à entrada do prédio, empunhando um cartaz. Como era de esperar, as vizinhas e os vizinhos começaram a aparecer às janelas, à espera do que ia sair dali... Teria preferido que as coisas não tivessem que se resolver daquela maneira, mas era o que tinha de ser. Ainda lhe passou pela cabeça lançar uma mangueirada ao dilema, mas não deu sequência ao impulso, pois seria um desperdício de água, recurso sempre precioso, mais a mais agora, que fazia um calor que berrava!... Não, a coisa teria que ser resolvida com diplomacia. Começaria pela abordagem clássica, a do passar a mão pelo pêlo, sempre útil em situações semelhantes e muito vocacionada para protagonistas que costumam ter-se numa grande conta, como é o caso dos dilemas e outras espécies que gostam de lidar com oposições ou contrários e se reconhecem pelo símbolo 'ou', uma marca de prestígio, poderá concluir-se. Mas o pêlo deste parecia um pouco áspero... Teria que arranjar outra abordagem. Num passe de mágica, sua característica secundária, mas útil em situações desesperadas, começou por enumerar o conjunto de regalias, mordomias e outras coisas terminadas em 'ias' que o dilema poderia vir a usufruir se o deixasse em paz. Mas a coisa não estava também a correr bem, não porque o dilema não estivesse entusiasmado com as hipóteses e perspectivas que lhe iam desfilando pelos olhos, mas porque algumas das vizinhas e vizinhos começaram a entusiasmar-se com o que viam e desatavam, elas e eles, a também desfilarem dilemas à laia de cânticos à desgarrada, correndo-se cada vez mais o risco de uma situação descontrolada, não tardava a necessitar de intervenção das autoridades... Que fazer...? Só via uma saída: perante escrever ou cavar resignar-se-ia... indo para os copos!
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