07 junho 2020

Na arca da avó

Decidira inovar. Again. A utilização da palavra inglesa entusiasmara-o. Em matéria de inovação não era muito criativo, mas dava um toque cosmopolita... Aqui pensou em meter outra, mas refreou-se. O que calharia melhor agora, pensou, era recorrer a um arcaísmo... Com isto, imbuía-se de uma perspectiva culta (para currículo, não havia melhor!..). Olhou em volta, à procura de um. Não estava a encontrar nenhum. Talvez na arca da avó, quem sabe...? Aproximou-se da arca e levantou a tampa. Espreitou para dentro e perguntou: «Há aí algum arcaísmo que queira ver a luz do dia?...». Silêncio. Espreitou melhor. Lá no fundo, alguma coisa começava a mexer-se... À cautela, muniu-se de um pau. Começou a ouvir-se uma tosse. Seca, a princípio, depois mais descontrolada, como se um qualquer pulmão quisesse fugir... Pôs a máscara. O que lhe aparecia à frente era uma coisa estranha, mas tinha uma certeza: não era a avó! Aproximou-se mais um bocadinho. Pela pinta, parecia-lhe um marmanjo... Inquiriu-o. A história era conhecida, mas estava bem contada: nascido de boas famílias, caíra na desgraça. Mas arrependia-se. The end.

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