23 novembro 2019

A teia

Convencera-se de que a habituação tinha um fim: contribuir para sentir-se confortável. Visto assim, era algo positivo. Mas tinha um reverso. Não como o das moedas, que está na outra face, mas reverso na mesma, pois é o preço que se paga a outro nível. Por exemplo, na atenção ao que nos rodeia.
A proximidade da janela alertou-o. Pelos vistos, não é só o ser humano e as plantas que a procuram. Também os animais. E não apenas os gatos ou os cães, mas outras espécies...
Nunca prestara à teia mais do que a atenção que se devota às coisas habituais: estar lá e não se dar conta... até um dia (podia cair a primeira espadeirada dada pelos entusiastas da limpeza do pó...). Levada esta, em sentido literal ou figurado, o certo é que nada se alterara quanto ao rumo da constatação da primeira frase (e aqui a espadeirada aumentava, para não dizer indignação, que vamos deixar para segundas núpcias) ...
Tirando talvez o mundo das adegas, o certo é que a presença de teias não costuma estar no top ten das recordações preferidas da rapaziada... Há quem se dê bem e quem se dê mal. No caso da nossa aranha, nem uma coisa nem outra. Foi-se embora, simplesmente. Mas deixou mensagem: «Não me aumentes a renda, que volto logo».



Etiquetas: