12 setembro 2009

À cabeça!...

Na estação do metro da Alameda, ao final da tarde, várias pessoas se cruzam. Estação de ligação por natureza, recebe e faz circular passageiros pelas linhas que a intersectam. Presencio um facto que, julgo, não terá passado despercebido, dado o seu carácter insólito e paradoxal: uma mulher, recém-chegada da linha Oriente, transporta, à cabeça, uma embalagem com um micro-ondas! Tudo nesta imagem parece deslocado no tempo e no espaço, excepto o micro-ondas: o local, o meio de transporte e a protagonista. Estamos no domínio do paradoxo e da estranheza: em relação aos meios de transporte utilizados (metro versus corpo humano) e ao enquadramento do cenário (o urbano por oposição ao rural). Apesar disso, ressalta uma simbologia forte: a capacidade humana de improvisar e aproveitar o que se lhe oferece, em caso de necessidade, usufruindo o que de melhor as coisas e o ambiente lhe podem fornecer. Era espantoso o desembaraço demonstrado pela mulher, de certo habituada a fazer isto, utilizando e aproveitando o que tinha à mão: o metro, para a maior parte da distância; o casaco, que lhe servia de suporte e base de equilíbrio para a embalagem; a sua cabeça e o seu corpo, peças de um ancestral «veículo» de transporte, com a segurança de quem executa uma rotina costumeira, tal a eficácia e o tecnicismo demonstrados, raramente necessitando do apoio das mãos. De direita que ia, um modelo na passerelle não faria melhor...

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