O assessor
Era um assessor muito requisitado: competente, disponível e profissional. Naquele dia, nada fazia prever que alguma coisa se tivesse alterado. Excepto um pequeno pormenor: estava surdo. Não uma surdez preocupante, mas circunstancial, provocada por uma ligeira deslocação de cerúmen. Fruto da época estival, recordava-se. A sua habitual despreocupação com estas coisas, consideradas de somenos, fazia o resto. Médico, nem pensar! Haveria de passar. Quem sabe, talvez com meia dúzia de mergulhos... Afinal de contas, ainda dispunha de alguns dias de férias e os dias continuavam convidativos. «Talvez nos trópicos», idealizou.
Nesse dia, preparava-se para afivelar o seu melhor estilo e competência profissionais. Mais uma reunião, de tantas em que já participara e, de certeza, continuaria a participar. De tão rotinado, já nem notava os pequenos indícios da diferença que começavam a manifestar-se, provocados por essa surdez temporária, mas que continuava a ser encarada como insignificante: inclinava a cabeça e procurava adaptar-se à sua particular situação e ao bloqueio temporário, é certo, mas real, do canal auditivo. A reunião ia começar.
Sentada ao seu lado, a sua chefe murmurava, procurando auscultar a sua opinião e conselho abalizados. O nosso assessor, a seu lado, não conseguia discernir e ouvir rigorosamente nada. Tentou mudar a posição da cabeça. Nada!
Às tantas, desesperado, soltou, sonoro e audível, um lamento, mais parecido com um berro:
- Não ouço nada, porra! Tem que falar mais alto!
Os participantes, atónitos, viraram-se na sua direcção e apontaram, irónicos, a tabuleta à entrada da sala:
«Se estiver surdo, não entre. Os otorrinos agradecem»...
Nesse dia, preparava-se para afivelar o seu melhor estilo e competência profissionais. Mais uma reunião, de tantas em que já participara e, de certeza, continuaria a participar. De tão rotinado, já nem notava os pequenos indícios da diferença que começavam a manifestar-se, provocados por essa surdez temporária, mas que continuava a ser encarada como insignificante: inclinava a cabeça e procurava adaptar-se à sua particular situação e ao bloqueio temporário, é certo, mas real, do canal auditivo. A reunião ia começar.
Sentada ao seu lado, a sua chefe murmurava, procurando auscultar a sua opinião e conselho abalizados. O nosso assessor, a seu lado, não conseguia discernir e ouvir rigorosamente nada. Tentou mudar a posição da cabeça. Nada!
Às tantas, desesperado, soltou, sonoro e audível, um lamento, mais parecido com um berro:
- Não ouço nada, porra! Tem que falar mais alto!
Os participantes, atónitos, viraram-se na sua direcção e apontaram, irónicos, a tabuleta à entrada da sala:
«Se estiver surdo, não entre. Os otorrinos agradecem»...
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