Molho de chaves
O molho de chaves caiu-lhe aos pés. Era no que dava o buraco no bolso das calças e o efeito da gravidade. Por sorte caíram em solo sem bosta, mas podia não ter sido assim. De manhã, a motoreta da junta passara por ali, com aquela mangueira que parece a dum aspirador, e sugara o que havia para sugar, plantas incluídas, e uma carta a candidatar-se a um emprego numa repartição, em part-time e ao abrigo de um qualquer fundo mandado lá das Europas. Pelos vistos o emprego teria que esperar por outra carta ou por outro qualquer fundo, logo se veria... Quanto às chaves, depois de as limpar com um sopro, que também servia para lhe puxar o lustro, pôs-se a olhar para elas. Algumas já nem sabia para que serviam, se para boa ou má coisa, mas de certeza para algum uso, isso era certo. Outras, pelo contrário, sabia bem para o que eram: para abrir um coração, para aquecer um motor ou para abrir ou fechar uma porta, janela que fosse. Mas teria que tratar do buraco no bolso. Sem isso, não haveria chave que lhe valesse.
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