À hora marcada
A carta chegou por correio normal e com a indicação correcta do destinatário, da rua e do código. Como o remetente não lhe dizia nada, não ligou e atirou-a para cima do molho das outras. Um dia, logo pela manhã, uma senhora, vestido de negro, bateu-lhe à porta e perguntou-lhe se era ali que morava o «Sr. Fulano de tal». Disse que sim e perguntou se havia algum problema, respondendo a senhora que ele estava atrasado, se não a conhecia e se não tinha medo da foice que trazia na mão. Aí ele percebeu, pediu muitas desculpas e perguntou se ainda tinha tempo de fazer a barba, ao que a senhora anuíu. Quando já estava quase a acabar de arranjar-se, descobriu que não tinha uma gravata que combinasse com a camisa e pediu à senhora uma derrogação até ao dia seguinte, pois era domingo e a loja a que queria ir estava fechada. Contrariada, mas nem por isso menos bondosa, a senhora concordou e chamou-lhe a atenção para a responsabilidade quanto aos compromissos, que são para se cumprir, afirmação com que ele concordou, pois sempre pautara a sua vida por eles. Que ela ficasse sossegada, por isso, que amanhã, já com a gravata a condizer e os sapatos engraxados, ela poderia vir sem receio, pois ele estaria à espera que a morte o levasse.
(em dívida para com J. Rentes de Carvalho e Woody Allen, de quem me lembrei agora e que, se calhar, até tem mais responsabilidades...)
(em dívida para com J. Rentes de Carvalho e Woody Allen, de quem me lembrei agora e que, se calhar, até tem mais responsabilidades...)
Etiquetas: Face(stories), Historieta
<< Home