A chuva e o leitor
A chuvada era grande e o homem recolheu-se dentro de um centro comercial, junto à porta de entrada, para lhe permitir ver a chuva a cair, forte e enxurrante mas bonito de ver, para mais estando-se protegido. Como o tempo seguia e a chuva não parava, o homem, previdente e paciente, desencantou um livro dos dois que trazia num saco de plástico, coisa útil para o transporte de mercadoria, qualquer que fosse, e com a vantagem de também proteger quanto à aguada, acabara de ser provado. E pôs-se a ler, abstraído e absorto do mundo, excepto para os efeitos da chuva... Foi-se mantendo nesta espécie de transe até ao momento em que uma lojista do centro o espantou, apiedada, querendo emprestar-lhe um guarda-chuva para uso e com promessa de retorno num dia qualquer, que amável e gratamente rejeitou, mas já não o banco que lhe foi oferecido em alternativa, pois a leitura sai melhor e agradece-se em poiso confortável, que era o que lhe estava a faltar, embora já tivesse lido de pé algumas páginas. E assim foi, acabando por lá ficar até fecharem as portas. Deixara de chover, entretanto.
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