09 junho 2013

Lírica camoniana

Quando o chamaram para consertar o mundo recusou, porque estava a lanchar (e, para ele, isso era sagrado, mais a mais quando se tratava de beber uma tacinha de branco e de comer um pratinho de caracóis). Tentaram segunda vez e voltou a não poder, pois não tinha vaga na agenda, uma modernice a que tinha, recentemente, aderido. À terceira foi de vez, mas disse que só depois das sete, quando tivesse acabado de fazer o que estava a fazer, que era complicado e estava à espera de umas peças. Cerca das 20h30 lá apareceu, estavam os donos do mundo a jantar. Deu as boas-noites e perguntou pelo comando, que logo lhe foi entregue. Olhou para aquilo e perguntou pelas pilhas, se as havia. Lá lhas deram e perguntaram se era disso, mas ele não respondeu. O telemóvel tocou e respondeu que agora não, pois estava a trabalhar. Pegou na chave de fendas, que tinha comprado num catálogo, e começou a apertar o comando do mundo, comentando que era o que ele pensava e que já estava habituado à falta de cuidado das pessoas, fossem elas donas do mundo ou não. Voltou a entregar o comando, já arranjado, e disse aos donos do mundo para carregarem no botão 'start' para verem se funcionava: funcionava. Quando foi das contas, com iva incluído, pois não queria problemas com as finanças, fez uma recomendação simples, mas preciosa, acerca do funcionamento do comando: para o conserto do mundo nunca carregar na patilha «des». Recebeu o dinheiro e despediu-se, desejando um resto de noite tranquilo e que deixava um cartão com os seus contactos para que os donos do mundo lhe telefonassem, caso fosse necessário. Fechou a porta e mandou uma sms pelo telemóvel: «acabei de consertar o mundo. aquece-me a sopa».

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