01 março 2024

Ao correr da chuva...

Estava sentado a uma espécie de balcão, numa cadeira alta, num cinema, à espera do começo de um filme. Tem à sua frente um vidro grande, virado para a rua, a ver os carros e as pessoas a passarem, num dia de chuva, muita chuva, aparentemente benfazeja, em tempo de seca costumeira ou usual. É uma sensação estranha, mais ou menos desconfortável, olhando para a rua e para as pessoas que nela passam, umas resignadas, outras incomodadas, talvez fazendo contas às respectivas vidas, por causa da chuva, talvez, ou por causa disso, responda quem saiba, queira ou possa... O balcão está encaixado entre duas paredes, estando a cadeira onde se senta mais encostada a uma do que a outra, o que permite ter uma visão mais facilitada para o lado da parede de que estava mais afastado, mas o que vê não é muito maior ou melhor, apenas mais abrangente... O cenário de chuva parece o de uma escorrência continuada e semelhante a uma queda de água, enquanto se ouve na aparelhagem do cinema uma música a fazer lembrar a quentura de uma época ou de locais mais aprazíveis do que aquele que experimentava agora, ele e a maioria dos passantes... Olhava para dentro dos carros à procura de um sinal diferente do que o motivado pelo agarrar do volante, de um olhar que acompanha o compasso dos limpa-pára-brisa, dos gestos de fastio, preocupação ou desligamento ao aqui e agora... É uma escrita ao correr da pena, sem fim ou propósito, ou talvez não o seja, se calhar descobrirá depois... Se o objectivo era produzir algo, fora cumprido. Se valera a pena, tinha dúvidas...


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