Arrumado
Não sabia se era uma prática comum no universo dos escribas, iria admitir que sim, mas no seu caso era já um hábito instituído: a existência de um espaço para arrumos e despejo de textos ou partes de texto sem jeito, parágrafos amputados ou trocados, vírgulas desirmanadas, exclamações sofridas e interrogações perplexas, com mais ou menos congestionamento. Havia de tudo, se bem que mais de uns do que de outros, atendendo à proveniência. Não que lhe prestasse muita atenção ou providenciasse limpeza adequada, situação típica aplicável a qualquer espaço de arrumos, aliás, de qualquer ordem de actividade, pessoal ou profissional. Mas, existindo este, volta e meia lá se olhava para ele e, com sorte ou azar, tirava-se ou trazia-se à luz do dia alguma coisa, sacudindo-lhe o pó ou dando-lhe umas guinadas para acertar ou ajeitar o alinhamento. E hoje era um dia destes, verificada que estava a incompatibilidade de uma vírgula em roda livre, perdida a tramontana, e um ataque de ciumeira dum bando de adjectivos (raça do catano!), sempre ciosos de destaque e protagonismo. Teria que pôr ordem nisto. E foi o que fez, começando por um travessão, já entradote, mas ainda rijo, onde se fazia um aviso:
_Ou se portam bem, ou não vão brincar para a gráfica.
Remédio santo. Ponto.
_Ou se portam bem, ou não vão brincar para a gráfica.
Remédio santo. Ponto.
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